terça-feira, 1 de novembro de 2011

Segundo Motivo da Rosa


Segundo Motivo da Rosa
(a Mário de Andrade)


Por mais que te celebre, não me escutas,
embora em forma e nácar te assemelhes
à concha soante, à musical orelha
que grava o mar nas íntimas volutas.


Deponho-te em cristal, defronte a espelhos,
sem eco de cisternas ou de grutas...
Ausências e cegueiras absolutas
oferece às vespas e às abelhas.


E a quem te adora, ò surda e silenciosa,
e cega e bela e interminável rosa,
que em tempo e aroma e verso te transmutas!


Sem terra nem estrelas brilhas, presa
a meu sonho, insensível à beleza
que és e não sabes, porque não me escutas...


Cecília Meireles

Nenhum comentário: