terça-feira, 16 de agosto de 2011

MMA: Mulheres entram no universo das lutas, que vai deixando de ser exclusividade masculino

RIO - Em 29 de dezembro de 2007, em Las Vegas (EUA), uma jornalista carioca apostou todas suas fichas no MMA. Enquanto Lyoto Machida vencia sua quarta luta no UFC, que chegava à 79 edição, e Wanderlei Silva era derrotado por Chuck Liddell, Paula pensava que aquilo ainda seria grande no Brasil. Hoje, aos 30 anos, a repórter, que já foi exceção num universo predominantemente masculino, vê que a hora chegou.

- Aquela foi minha primeira cobertura fora do Brasil. Quando vi o tamanho, toda aquela organização, fiquei muito impressionada. Acompanhei uma época de transição, de profissionalização. Isso foi decisivo para o meu trabalho - relembra Paula, responsável por escrever, roteirizar e gravar reportagens de bastidores exibidas no site oficial do UFC.
Diferente de Paula, a relação de Milena Cardoso, 32 anos, com o esporte não começou por motivos profissionais. Foi o ex-marido, um apaixonado pelas lutas, que lhe apresentou o mundo das artes marciais mistas.

- Ficávamos assistindo nas madrugadas de sábado. Depois, comentava com minhas amigas, e muitas achavam estranho o meu gosto, naquela época - conta a servidora pública.

Milena, que já praticou capoeira, matriculou a filha de 7 anos no jiu-jitsu e na capoeira. Mais do que o prazer de acompanhar os combates e de torcer por seus lutadores favoritos, ela vê na prática uma forma de preservar a saúde.
- A luta é um ótimo exercício físico e mental - destaca.

Quebrando paradigmas
Milena tentou, mas não conseguiu comprar na internet ingressos para o UFC Rio. Vai ter que acompanhar pela televisão. Já a universitária Raíza Chaves, de 18 anos, campeã estadual de jiu-jitsu, garante que estará na HSBC Arena no dia 27 de agosto. Pela primeira vez em dez anos o maior evento de MMA do mundo chega ao Brasil.

- Assisto a tudo que é do UFC. Como esse será na porta de casa, não vou perder - brinca a moradora da Barra da Tijuca, que treina na academia Team Nogueira, no Recreio, e é fã dos campeões mundiais José Aldo e Anderson Silva.
No Rio de Janeiro, onde nasceu a lenda Royce Gracie, primeiro vencedor, em 1993, do UFC, o octógono é pouco a pouco pintado de rosa.

- A procura das mulheres por aulas de artes marciais tem sido fantástica. A maioria nem quer se tornar lutadora, mas aproveitar os benefícios que o esporte traz para o corpo, como perda de calorias, definição da musculatura e desenvolvimento de habilidades motoras - revela a professora Monique Sé, treinadora de boxe tailandês de Raíza.
Quando ainda era estudante universitária, em 2008, Fernanda Prates começou a praticar muay thai para perder peso. Gostou tanto que passou a acompanhar o MMA de perto e a escrever num site especializado.

- O universo ainda é basicamente masculino. É bom por um lado, porque dá um certo sentimento de pioneirismo. É legal se sentir quebrando paradigmas - diz, orgulhosa de já ter entrevistado nomes consagrados do UFC, como o ex-campeão dos meio-pesados Maurício Shogun Rua. - Agora até quem sempre foi muito reticente se rendeu. Existe aquela brincadeira de que o rúgbi ainda vai ser grande nesse país. Com o MMA não é assim, já está muito grande e ainda vai crescer - completa.

A atração pelo MMA não se limita às mulheres que lutam ou trabalham com isso. Yuki Yokoi, apesar da ascendência oriental e do avô judoca, nunca vestiu quimono ou subiu num ringue. O gosto vem desde os tempos em que o ex-marido, lutador, promovia reuniões em casa com amigos para assistir aos campeonatos na TV por assinatura.

- Nas reuniões, ia o pessoal da academia. Era até meio bizarro, umas dez pessoas no quarto - diverte-se. - O legal é que eram atletas e entendiam do assunto, então os comentários eram interessantes. Acabei aprendendo - explica.
Nada de Maria Tatame

O interesse por lutas virou uma forma de "quebrar gelo". Atualmente, o MMA é assunto nas conversas com os colegas da pós-graduação em mercado de capitais, que cursa em São Paulo. Yuki, fã de Lyoto Machida e do canadense Georges Saint-Pierre, campeão mundial dos meio-médios no UFC, garante que troca ideia de igual para igual com os rapazes.

- Hoje em dia, isso virou parte da socialização com a parte masculina do trabalho. Não gosto de futebol, mas falo de luta. Eles acham engraçado, mas sem preconceito pelo fato de eu ser mulher. Existe por aí a ideia errada de que quem acompanha MMA é Maria Tatame, isso não tem nada a ver - observa Yuki, referindo-se à versão para o octógono das Marias Chuteiras, caçadoras de jogadores de futebol.

Esse tipo de estigma não incomoda a paulista Carol Dias. Dona de curvas que deixam muito fã de MMA de boca aberta, ela encara com seriedade sua relação com o esporte. Carol trabalha como ring girl, nome em inglês dado às meninas que entram no ringue em trajes sensuais, com placas na mão que anunciam os rounds nos intervalos das lutas.

- Amo MMA, já até tentei lutar, mas não fui em frente. Comecei como ring girl por acaso. Uma amiga minha me convidou, gostei e não parei mais - conta.

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