sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Revista ESPN: amistoso da seleção tem na origem empresa da qual Teixeira seria 'sócio oculto'; entenda o caso


O controverso amistoso da seleção brasileira com Portugal, no dia 19 de novembro de 2008, alvo de investigações e denúncias envolvendo sua organização, tem em sua origem uma empresa da qual o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014, Ricardo Teixeira, seria mais do que um padrinho forte. O cartola seria uma espécie de “sócio oculto” da Brasil 100% Marketing, parceira da CBF em diversas ocasiões, segundo diz à Revista ESPN Nathalie Peackock, ex-mulher de um dos sócios da agência, o economista Cláudio Honigman. 

Em reportagem assinada pelo comentarista dos canais ESPN e blogueiro do ESPN.com.br Lúcio de Castro na edição de setembro da Revista ESPN, a trama envolvendo o amistoso da seleção contra os portugueses e os negócios obscuros entre a CBF e a agência é “digna de um folhetim” e tem “todos os ingredientes: poder, dinheiro e negócio realizados na penumbra”, diz o texto.

Oficialmente, os sócios da empresa são Honigman, o empresário Sandro Rosell (atual presidente do Barcelona e ex-presidente da Nike no Brasil) e Vanessa Almeida Precht (ex-secretária do mandatário do Barça). Os dois primeiros são amigos próximos de Teixeira. “Cláudio me disse que os três eram sócios da Brasil 100%. Sandro e Cláudio iam sempre até Ricardo para mostrar os projetos. Eu estava presente nisto”, revelou Nathalie à reportagem.

“Era muito comum, todos sabíamos que os três eram sócios. Inclusive juntos fizeram o projeto de como seria o logo da empresa. Nosso motorista ia constantemente à residência de Ricardo Teixeira para deixar todo tipo de documento relacionado à empresa. O interessante é que tudo é claro como água, mas por razões óbvias ninguém abre a boca com o que sabe”, diz Nathalie. “Recordo de perguntar para os outros (sobre a condição oculta do sócio), mas Cláudio me disse que não poderiam sair como donos. Isso era muito claro, inclusive no círculo de amigos que não tinham nada a ver com futebol.” 

A reportagem da Revista ESPN tentou ouvir Ricardo Teixeira a respeito das declarações de Nathalie, mas o diretor de comunicação da CBF, Rodrigo Paiva, afirmou que o dirigente “não vai se pronunciar sobre isso se não existe nenhum documento oficial sobre o assunto”. 

A existência do possível “sócio oculto” já foi abordada na Justiça, diz a reportagem. No dia 13 de junho de 2010, o ex-contador da Brasil 100% Marketing, Jason de Oliveira Lima, convocado a depor no processo de separação de Nathalie e Honigman, foi questionado sobre a participação de Ricardo Teixeira na empresa. O processo corre em segredo de Justiça na 1ª Vara de Família da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. O contador foi procurado pela Revista ESPN e disse que “por uma questão de ética profissional, não fala sobre seus clientes”, concluindo ainda que fala “somente sobre quem está oficialmente no contrato social da empresa”. Entretanto, ele confirma que foi questionado em depoimento sobre a participação do presidente da CBF. 

A reportagem de Lúcio de Castro ainda mostra que, em 2002, a Brasil 100% Marketing muda a objeto social de “atividades esportivas não especificadas” para “casa de festas e eventos”. Em 4 de julho de 2008, a empresa passa por uma grande mudança e se transforma em sociedade anônima. As cotas dos proprietários são transformadas em ações – as cinco mil cotas de Honigman viram cinco mil ações ordinárias, Rosell prossegue com 4.999 ações, e Vanessa Precht com uma, em um total social de dez mil ações. 

Apenas alguns dias antes de a Brasil 100% se transformar em sociedade anônima, é criada no Rio de Janeiro uma outra empresa, a Ailanto Marketing, em 29 de maio de 2008. Dos três sócios oficiais da Brasil 100%, apenas Rosell e Vanessa aparecem oficialmente na nova empresa, com sede no endereço residencial de Vanessa, no Leblon. A saída de Cláudio tem uma razão de ser, segundo Nathalie. “Cláudio é judeu. Muitas vezes escutei a conversa entre eles de que muitos dos negócios eram com árabes, e que a presença de Cláudio poderia ser prejudicial”, afirma a ex-mulher do economista. 

O fato é que, cinco meses após sua criação, a Ailanto já intermediava o amistoso entre Brasil e Portugal, em Brasília, em novembro de 2008. A empresa que detém o contrato de exploração dos amistosos da seleção é a International Sports Events (ISE), parte do conglomerado Dallah Albaraka, do xeique Saleh Kamel. Segundo a reportagem, a organização de Brasil x Portugal “transformou-se num jogo de esconde, com sucessivas transferências dos direitos do amistoso” e “sempre tendo como beneficiários os mesmos personagens” em “uma verdadeira ciranda”, explicada com riqueza de detalhes por Lúcio de Castro na edição deste mês da Revista ESPN. 

O amistoso entre Brasil e Portugal continua rendendo. O Ministério Público do Distrito Federal solicitou a devolução de R$ 9 milhões pagos pelo governo do DF para a Ailanto. A reportagem ainda lembra que, durante a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, o trio Teixeira, Rosell e Honigman estava permanentemente junto. Para entender essa ciranda milionária, é só correr às bancas e ler a reportagem completa de Lúcio de Castro.

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