quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Citado em narração no tri de Senna, Mihaly Hidasy conta histórias do piloto

Húngaro que deu bandeirada para vitória do brasileiro no GP do Brasil de 1991 viu seu nome cair na boca do povo na transmissão de Galvão Bueno

"Mihaly Hidasy! Ayrton, Ayrton, Ayrton Senna do Brasil!". Os fãs de Senna certamente não esquecem desta emocionante narração de Galvão Bueno na bandeirada final para a primeira vitória de Ayrton Senna no GP do Brasil, em 1991, temporada que marcou a conquista do tricampeonato da F-1, que completa 20 anos nesta quinta-feira.

Foi naquela emocionante corrida que Mihaly Hidasy, diretor de provas do GP do Brasil, viu seu nome cair na boca do povo. O "húngaro mais brasileiro do mundo" - como se auto-intitula - responsável pela bandeirada para a histórica vitória de Senna, lembra com carinho daquela data.

- Sem dúvida foi o momento mais especial da minha carreira. Até hoje a bandeirada é mostrada quando se fala da história da F-1 ou de Ayrton e meus amigos sempre me ligam quando veem o lance na TV. Tinha gente que imitava o grito quando me encontrava – conta o húngaro naturalizado brasileiro, que fez amizade com o narrador Galvão Bueno em seus 30 anos de F-1.

Na ocasião, Senna liderava a corrida com 40 segundos de vantagem sobre o italiano Riccardo Patrese, da Williams, a 11 voltas do fim. Então, sua McLaren começou a ter problemas de câmbio, colocando em risco a vitória. Com muito esforço, o brasileiro completou as últimas sete voltas apenas com a sexta marcha. E a chuva no fim da corrida deu um tom ainda mais dramático ao GP.

E foram nessas últimas voltas, que Galvão, com o "coração na boca" começou a gritar "Está chovendo! Mihaly Hidasy, acaba com isso logo", em um pedido, em vão, ao diretor de prova para que encerrasse a corrida antes do tempo. A vitória de Senna acabou vindo da mesma forma.
(Foto de arquivo pessoal)

Diretor do GP do Brasil por 18 anos, Mihaly Hidasy pode se gabar de ter sido o responsável pelas bandeiradas para as duas vitórias de Ayrton Senna na Fórmula 1 no país. Além de 1991, Senna venceu em Interlagos em 1993.

- Todas as corridas têm emoções diferentes, porém ser o único a dar a bandeirada final para as vitórias de Senna no Brasil é especial. Não tenho dúvidas que ele era o melhor piloto daquela época, seguido por Alan Prost e Nigel Mansell.

Bastidores e histórias curiosas com o tricampeão Ayrton Senna
Durante o tempo que conviveu com Senna, Hidasy criou uma relação de amizade com o tricampeão mundial, mas sem deixar o profissionalismo de lado. Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, ele contou que conheceu o brasileiro ainda nos tempos de kart.

- Tinha bastante contato com Ayrton. Já o conhecia da época do kart e conversávamos muito sobre a mudança no circuito de Interlagos. Mas a relação tinha de ser profissional na Fórmula 1. Uma vez o puni no GP da Hungria, quando ele deixou o carro na entrada dos boxes e pegou o reserva - contou Mihaly, que participou efetivamente da construção do circuito de Hungaroring, na Hungria, onde trabalhou como diretor de competições e comissário desportivo por dez GPs.

Hidasy lembrou outra história com o brasileiro, desta vez no autódromo de Jacarepaguá.

- Uma vez no autódromo do Rio, Ayrton passou duas vezes pela bandeira quadriculada, o que era proibido naquela época. O chamei para a torre de controle, o adverti e brinquei perguntando se ele tinha problema de visão. No dia seguinte ele me trouxe um atestado médico do oftalmologista (risos).

Mihaly Hidasy foi 'escalado' para acabar com a inimizade entre Senna e Prost 
(Foto: AFP)

Em razão da relação próxima, mas profissional com Senna, Hidasy conta que foi escalado para tentar promover a paz entre o brasileiro e Alain Prost em 1990, que haviam se desentendido no ano anterior, quando um acidente entre os dois deu o título ao francês.

- Na época do desentendimento entre Ayrton e Prost, no GP da Hungria, fui designado para tentar promover a paz entre os dois pilotos. Nós nos reunimos no trailer da FIA. Durante meia hora argumentei, pedi para não continuarem como inimigos. Os dois conversaram bastante e bateram um papo aparentemente amigável. Mas parece que tudo continuou na mesma, não é? - disse, lembrando-se que no fim do ano, Senna e Prost voltaram a se envolver em um acidente que decidiu o título, dessa vez a favor do brasileiro.

Nascido em Budapeste em 1938, Mihaly Hidasy chegou ao Brasil aos 19 anos, meses após deixar o país natal em razão dos conflitos da Revolução da Hungria, em 1956. Naturalizado brasileiro, ele tem grande identificação com o país que o acolheu.

- Completei 54 anos de Brasil em 2011. Aqui construí minha história e minha família. Considero-me o húngaro mais brasileiro do mundo – brincou.
De patrocinador de equipe de kart à diretor de prova da Fórmula 1
A entrada no automobilismo, que se tornou sua grande paixão, foi por acaso, no início da década de 1970. Mihaly relembrou um de seus primeiros contatos com o esporte.

- Comecei a frequentar um kartódromo no Recreio (bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro) e fiz amigos lá. Um dia estava assistindo a uma corrida e um piloto rodou perto de mim. Empurrei o kart para ele voltar para pista, só que na categoria dele não era permitido e ele foi desclassificado por minha culpa (risos).
Mihaly Hidasy, diretor de provas do GP do Brasil ao lado de Bernie Ecclestone
(Foto: Arquivo Pessoal)

De espectador, Mihaly passou a patrocinar, através de sua empresa de lubrificantes, uma equipe de kart na época. Anos depois, parou com o patrocínio e começou a organizar corridas de kart. Seu envolvimento com o automobilismo foi crescendo gradativamente com o tempo. Participou da reinauguração do autódromo do Rio de Janeiro, foi chefe de boxe e depois diretor de prova de grandes competições até ser convidado para trabalhar na Fórmula 1, em 1973.

Mihaly começou como comissário e chefe de boxe do GP do Brasil. Nos dois anos seguintes foi diretor adjunto e em 1976 tornou-se diretor de prova, função que exerceu por 18 anos. Nos 30 anos de Fórmula 1, Mihaly fez muitos amigos, dentre eles o chefe comercial da categoria Bernie Ecclestone.

- No início, não o conhecia pessoalmente, apenas de nome. Uma vez na corrida de Fórmula 1 no Rio de Janeiro, Bernie queria entrar na pista com um Galaxy cinco minutos antes de começar o primeiro treino. Eu o proibi. Depois ele veio falar comigo, dizer que agi corretamente, e a partir daí nos tornamos amigos – relembra.
Hidasy dirige provas de kart em Volta Redonda, onde mora atualmente 
(Foto: Alex Macabú)

Aos 83 anos de idade, engana-se quem pensa que Mihaly Hidasy se afastou das pistas. Apaixonado pelo automobilismo, Hidasy costuma fazer direção de provas de kart atualmente. No fim de agosto, trabalhou na Copa Brasil de Kart Indoor, competição amadora de kart que reuniu pilotos de diversos estados do país em Volta Redonda, cidade onde mora atualmente.

- Comecei no kartismo e fico muito feliz em voltar a ter contato com ele. Foi o kart que me abriu as portas para o automobilismo – conta Mihaly, que também participou da direção de prova do Mundial de Kart amador realizado em Macaé, Rio de Janeiro, em 2009.

Morando atualmente em Volta Redonda para ficar mais próximo dos filhos, Mihaly conta já ter uma identificação especial com a cidade.

- Coincidentemente, minha chegada no Brasil foi no dia do aniversário de Volta Redonda, em 17 de julho. Esse ano recebi uma bela homenagem pelos meus 54 anos no país. Moro a alguns minutos do Kartódromo Volta Redonda. Isso me permite me manter próximo de minha paixão que é o automobilismo e fazer novos amigos – comemorou.
(Foto de arquivo pessoal)

Nenhum comentário: